19 de jun. de 2014
Era um dia comum e chato como todos os outros. Era um dia em que eu estava até um pouco mais triste que os outros, mais brava, mais sem paciência com o mundo. Invento de sair do colégio mais cedo, a aula de biologia daquele professor me dava vontade de morrer. Assim que saio da porta do colégio vejo um lindo cachorro abandonado então resolvo falar com ele apenas um "Oi bebê", mas não bastava estar abandonado, o pobrezinho também estava carente, começou a abanar o rabo e a me seguir. Levei uns bons cinco minutos para fazer com que ele não fosse atrás de mim, pois ele poderia morrer atropelado.
Ótimo, acabei de deixar um cachorro abandonado mais triste, parto mais rápido que tudo para o meu ponto de ônibus. Enquanto caminho tento entender todas as minhas escolhas que me fizeram chegar justamente onde eu estou. O caminho para o ponto de ônibus é sempre tumultuado, pessoas andam pelas ruas como zumbis, faltam-lhes amor, felicidade, compaixão, paciência e eu nunca sei o que eu estou fazendo no meio disso tudo, chego no ponto e um ônibus acaba de sair, - ótimo novamente, vou ficar esperando em pé por uns quinze minutos ou mais -. Vou para a fila que, surpreendentemente, está quase vazia.
— Ei, você sabe se esse ônibus passa no viaduto? - um garoto na minha frente me pergunta. Após eu não ter respondido por estar distraída, ele pergunta novamente.
— Ow menina, você sabe se esse ônibus passa no viaduto?
— Passa sim. - respondo desinteressada.
— É que eu não sou daqui e estou com medo de pegar esse ônibus. - ele retruca.
— Olha, te falaram para você pegar esse ônibus? Sinceramente acho que esse passa sim onde você quer. - respondo ainda desinteressada.
— Sim, me falaram. Mas é que eu sou de Brasília e nunca peguei ônibus aqui. Geralmente pego no shopping. - ele fala.
— Vai na fé, cara. Vai na fé que você chega em casa. Mas qualquer coisa pergunta para o motorista ou o fiscal ali. - respondo sorrindo.
Ele sai e eu continuo a pensar em como o cachorro deve ter ficado triste por eu tê-lo enxotado. Enquanto isso ele voltou para a fila e ficou quieto e eu me mantive absorta em meus pensamentos.
— Esse colégio é bom? - ele aponta para o logotipo da minha blusa escolar e sorri.
— É bom sim. - respondo sem convicção.
— Pois é, vi um outdoor falando de uma menina que passou em medicina que estudava lá. Eu também passei em medicina na UFRJ.
— Poxa que legal, parabéns. - respondo, agora com animação e penso "acabo de conhecer um estudante de medicina".
— Você também vai conseguir passar em medicina. - ele afirma mesmo sem saber que medicina é realmente o que eu quero fazer.
Enquanto isso o ônibus chega e a fila começa a andar.
— Deus te ouça. - respondo sorridente para ele.
Ele entra no ônibus e senta num banco sozinho e eu, animada por ele ter passado em medicina, penso em sentar perto só para saber mais sobre como ele conseguiu fazer essa proeza, enquanto isso ele me vê procurando um lugar e diz:
— Senta aqui comigo.
— Ok. - respondo animada.
Depois disso desembestamos a falar sobre medicina, ele veio de Brasília porque passou num concurso para fuzileiro naval e eu estudante do terceiro ano que saiu de sua cidade pequena para estudar num colégio melhor. Ele diz que sempre foi um estudante mediano e eu digo que sempre fui esforçada. Ele com um sorriso bobo e eu com o coração batendo mais forte, bem mais forte. "O que há comigo?" começo a me perguntar. Passo a sorrir também e a perceber que estou conversando com um estranho como se o conhecesse há muitos e muitos anos.
— Tem facebook? - ele pergunta.
— Sim, tenho sim. - respondo rápido demais, droga, esqueci que desativei essa semana. - Desculpa, eu desativei.
— Também penso em desativar o meu. Mas você tem whatsapp?
Nesse momento dou graças aos céus pela tecnologia ter evoluído e eu ter acompanhado esse fenômeno.
— Tenho sim. - respondo e ele me passa o número dele.
— Qual é o seu nome mesmo? - pergunto tímida por estar conversando tanto com alguém que nem sei o nome.
— Júlio César, mas pode escrever do jeito que você quiser.
Júlio César, então é esse o nome do garoto que falou comigo do nada numa fila do ônibus, que diz que passou em medicina e me deu o número do celular para conversarmos.
— Ok Júlio, te mandei uma mensagem, é só gravar no seu celular o meu número agora.
— Ok, foi muito bom te conhecer, mas eu preciso ir. Até mais.
— Tudo bem, amei te conhecer, sucesso na vida. - respondo chateada e com o coração estraçalhado.
E foi assim que um amor entrou na minha vida, um amor diferente de todos os outros, um amor que fez o meu coração bater mais forte, minhas pernas tremerem e minha boca sorrir feito uma criança que acabou de ganhar um presente. Um amor que me fez esquecer todo o meu passado de desamores, que curou todas as minhas cicatrizes e renovou meu coração, o deixou pronto para novos amores e até mesmo novas decepções. Um amor tão bom e verdadeiro que se tornou infinito naquela meia hora.